Por Amanda Alves
O chronoworking é uma nova tendência de modelo de trabalho que vem crescendo recentemente em virtude, principalmente, dos resquícios gerados com o isolamento social ao redor do mundo.
Em ascensão internacional, ele vem despertando interesse diante de novos desejos dos profissionais pautados em uma maior flexibilidade em suas carreiras, de forma que as pessoas tenham a liberdade de trabalharem nos horários que se sentirem mais produtivos.
Afinal, com a pandemia, o que mais vimos no mercado global foram casos crescentes de burnout e problemas de saúde diversos derivados dessa sobrecarga no trabalho, o que desencadeou uma verdadeira “guerra” contra a saúde mental.
Em dados divulgados em 2022 pela pesquisa Talkspace’s Employee Stress Check, como prova disso, foi constatado que um em cada dois profissionais se sentia esgotado e achava seu emprego muito estressante.
Ainda, um em cada três trabalhadores considerava que sua felicidade foi afetada pelo estresse do trabalho, o que fez com que 40% deles planejassem pedir demissão nos próximos anos.
Foi como consequência a esse cenário que o chronoworking começou a surgir e despontar em prol de um maior equilíbrio em suas rotinas, reduzindo essa carga de estresse e permitindo uma maior conciliação entre o trabalho e suas vidas pessoais.
Se a sua empresa ainda não conhece este conceito, então nos acompanhe neste texto, que iremos explicar todos os benefícios que esse modelo pode trazer para as equipes e como implementá-lo com êxito.
Veja os tópicos que serão abordados:
- O que é o chronoworking?
- Vantagens e desvantagens do chronoworking;
- Quais os desafios do chronoworking para o RH?
- Como adotar o chronoworking na sua empresa?
Boa leitura.
O que é o chronoworking?
O chronoworking é um novo modelo de trabalho que ganhou força com o isolamento social. Sua proposta é adaptar as horas de trabalho dos profissionais com base no ritmo biológico de cada um.
Ele representa uma metodologia de gestão de tempo que incentiva que cada pessoa trabalhe em horários que respeitem seu ciclo circadiano, também conhecido como o ciclo natural de energia alta e baixa de nossos corpos.
Na prática, isso significa que ao invés de seguir uma jornada convencional rígida, cada um trabalhará nos horários que se sentirem mais produtivos, adaptando a realização de suas tarefas nos momentos em que forem render mais.
Se uma pessoa se sente mais produtiva pela manhã, como exemplo, ela poderá trabalhar nas funções mais complexas e importantes neste período, deixando para realizar as atividades menos complexas ou urgentes em outros momentos.
A proposta do chronoworking é trazer uma maior flexibilidade no dia a dia dos profissionais, de forma que tenham uma relação mais harmoniosa entre seu bem-estar mental, físico e emocional, o que contribuirá para que tenham uma maior produtividade e satisfação geral na empresa.
Como surgiu?
O chronoworking foi criado pela jornalista Ellen C. Scott em 2024, utilizando como premissa o fato de que o fluxo de trabalho deve ser adaptado conforme o perfil individual de cada um, visto que temos nossos horários de picos de produtividade nos quais tendemos a render mais em nossas responsabilidades.
Este conceito foi primeiramente compartilhado na versão de janeiro de sua newsletter “Working on Purpose”, na qual discorreu sobre as tendências que considerava que iriam despontar no mundo corporativo neste ano.
Dentre tantos pontos abordados, a quebra da jornada rígida de oito horas, com horários pré-estipulados – assim como é visto no Brasil – foi um dos principais, defendendo um uso mais estratégico e inteligente do nosso tempo e energia.
Isso faria com que a realização das nossas tarefas fosse adequada aos padrões naturais de sono e vigília de cada um, de forma que consigam entregar o melhor de seus trabalhos com maior assertividade, produtividade e qualidade.
Em suma, com o chronoworking, a ideia é que os profissionais tenham uma relação mais saudável com as empresas e suas rotinas, evitando a sobrecarga de estresse e permitindo que tenham mais espaço para os cuidados com a saúde, lazer e atividades sociais.
Até porque, segundo uma pesquisa feita pela HP, apenas 27% dos profissionais afirmam ter uma relação saudável com seu trabalho, além de 55% que apresentam dificuldades com o bem-estar mental e emocional.
Vantagens e desvantagens do chronoworking
Ao considerar incentivar o chronoworking em um ambiente corporativo, é importante compreender, a fundo, quais vantagens e desvantagens este modelo de trabalho pode proporcionar aos profissionais.
Afinal, ele irá considerar o ritmo biológico de cada um e sua relação com a produtividade individual de trabalho, algo que, em uma grande equipe, com certeza pode gerar certos impactos de horários de trabalho muito diferentes.
Por isso, veja abaixo alguns pontos importantes que precisam ser levados em consideração antes de adotá-lo:
Vantagens
Os profissionais que seguem os ideais do chronoworking podem elevar significativamente sua produtividade, visto que irão trabalhar no horário em que mais costumam render no desempenho de suas tarefas.
Isso irá impactar, diretamente e positivamente, em uma melhor gestão de tempo individual, o que contribui para uma maior e melhor entrega de resultados e, consequentemente, no crescimento do negócio em seu segmento.
Ainda por parte dos profissionais, o chronoworking favorecerá uma melhora no clima organizacional, contando com times mais felizes e satisfeitos por terem a liberdade de trabalharem nos horários que se sentirem mais confortáveis e dispostos para operar.
Algo que, em um mercado crescentemente competitivo, é de extrema importância para elevar a imagem corporativa em seu segmento e, consequentemente, favorecer uma maior atração e retenção de talentos.
Essa flexibilidade no trabalho é, inclusive, um dos pontos mais desejados pelos profissionais mais jovens em uma vaga. Como prova disso, segundo dados divulgados no levantamento global Gen Z and Millennial Survey, apenas 31% dos millennials e 34% dos integrantes da Geração Z estão satisfeitos com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Todos esses benefícios do chronoworking irão contribuir, ainda, para uma redução de casos de burnout que ganharam uma força preocupante na pandemia. Segundo uma pesquisa feita pela LHH do Grupo Adecco, essa síndrome afetou, especialmente, as gerações mais jovens, com 45% dos líderes que afirmaram que o trabalho remoto e/ou híbrido desencadeou um aumento significativo neste diagnóstico.
Desvantagens
Por mais que o chronoworking traga diversas vantagens, não podemos deixar de mencionar possíveis pontos negativos ou dificuldades que este modelo pode trazer para as empresas, principalmente, em termos de gestão de equipes.
Até porque, como sua proposta é incentivar que cada profissional trabalhe no horário que se sentir mais produtivo, os empreendimentos podem enfrentar certos desafios em gerir um mesmo time que irá atuar em horários muito distintos, como exemplo.
Esse trabalho assíncrono, por mais que possa elevar a produtividade individual, exigirá das empresas um foco maior em sua gestão de pessoas, priorizando uma comunicação mais próxima e clara entre os membros para evitar desentendimentos que possam ocasionar em erros nos processos.
Alcançar um consenso de horários pode ser bastante difícil para os gestores, o que demandará um cuidado a mais no período de adaptação da implementação deste modelo, garantindo que as operações permaneçam fluindo da melhor forma possível.
Quais os desafios do chronoworking para o RH?
Os principais desafios do chronoworking para o RH incluem a mudança da cultura organizacional na adoção deste modelo e a necessidade de implementação de uma logística de adaptação assertiva.
A possibilidade de adotar um modelo que incentive a realização das responsabilidades profissionais nos horários em que cada um se sente mais produtivo é algo bem diferente das jornadas convencionais existentes no mercado, o que, por si só, pode gerar certos receios pelo mercado.
Nem todos os colaboradores conseguirão se ajustar a essa nova rotina, principalmente, em termos de autogestão, o que pode gerar uma certa resistência à mudança.
Aqueles que decidirem testar essa proposta também precisarão de um processo gradual de adaptação, contando com um forte direcionamento da liderança para que esta ideia seja integrada à cultura organizacional de forma que todos estejam cientes do porquê este modelo está sendo adotado.
Isso porque, na prática, ter profissionais trabalhando em horários distintos também pode trazer empecilhos na logística do gerenciamento de suas atividades, com riscos de que haja desentendimentos decorrentes da falta de comunicação acerca de suas tarefas e a certeza de que estão cumprindo com as expectativas estipuladas.
Como adotar o chronoworking na sua empresa?
Existem certos cuidados importantes a serem tomados pelas empresas que desejarem adotar o chronoworking no Brasil, que incluem uma maior capacitação das lideranças, definição das possíveis dinâmicas, investimento em ferramentas de comunicação e monitoramento dos índices de desempenho.
Entenda a fundo cada um desses pontos:
Defina as dinâmicas possíveis
Antes de tomar a decisão de implementar o chronoworking internamente, é essencial que os responsáveis por esse processo apliquem um diagnóstico a fim de compreender possíveis vantagens e desvantagens que esse modelo trará para o dia a dia dos membros.
Isso porque, além do fato de que muitos setores não conseguem operar devidamente com profissionais trabalhando em horários distintos, nem todos os talentos conseguem ter um autogerenciamento eficaz para que consigam desempenhar suas funções sem o acompanhamento de um líder de perto.
Por isso, considerando o ramo da empresa, suas demandas e objetivos, defina as possíveis dinâmicas nas quais o chronoworking poderia ser um ótimo ponto favorável ao melhor desempenho dos times, para que se tenha uma visão mais clara sobre esses cenários e de que forma este processo pode ser implementado.
Capacite as lideranças
Algumas das maiores dificuldades que podem surgir aqui incluem o fato de conseguirem supervisionar o resultado dos profissionais e assegurar que se mantenham alinhados com o resto do time, evitando desencontros na execução de suas tarefas e problemas decorrentes desta falta de comunicação.
Por isso, caso o chronoworking faça sentido na sua empresa, os líderes precisam receber uma capacitação profunda para gerenciar equipes que operem em momentos bastante diferentes.
Invista em ferramentas de comunicação
Considerando que os profissionais passem a trabalhar em horários assíncronos, as empresas precisam investir em ferramentas de comunicação robustas que permitam a troca de mensagens entre as equipes de forma eficiente.
Na prática, essa comunicação vai muito além do e-mail, e inclui outras soluções como o Teams, WhatsApp, ou outros chats usuais do mercado nos quais os membros consigam se manter atualizados perante suas tarefas e demandas a serem cumpridas.
Monitore os indicadores de desempenho
Uma das melhores formas de saber se a sua empresa está se beneficiando com o chronoworking é adotando indicadores de desempenho que tragam essas informações em tempo real sobre as atividades desempenhadas individualmente.
Eles não apenas fornecerão uma imagem mais nítida sobre quais profissionais conseguem ter essa flexibilidade em suas responsabilidades sem prejuízo à sua produtividade, como também embasar uma tomada de decisões mais estratégica sobre futuras ações a serem investidas.
Essa análise de resultados pode ser feita tanto em aspecto quantitativo quanto qualitativo, além, é claro, de existirem outras opções voltadas aos impactos gerados com determinado plano; métodos comparativos, os quais permitem analisar mais de um fator simultaneamente sob uma perspectiva mais ampla de mercado; ou avaliações mais pontuais.
Seja qual for a opção escolhida, é extremamente importante que haja esse monitoramento contínuo, de forma que os responsáveis tenham máxima segurança de que seus times estão conseguindo se adequar à proposta do chronoworking, mantendo ou elevando sua produtividade e qualidade nas entregas esperadas.
Conclusão
Ainda é muito cedo para determinar se o chronoworking é, de fato, uma tendência que veio para ficar no mercado. Precisamos aguardar até que mais empresas decidam testá-lo e analisar os resultados que forem sendo notados, verificando se sua incorporação pode trazer todos os benefícios propostos.
Aquelas que decidirem embarcar nessa jornada devem levar em consideração os cuidados expostos nesse texto, de forma que tenham o máximo cuidado ao identificar em quais setores vale a pena considerá-lo e, ainda, quais ferramentas utilizar para acompanhar o desempenho dos profissionais que adotarem essa flexibilidade em sua rotina.
Existem muitos pontos favoráveis que as empresas podem adquirir com este modelo. Porém, assim como qualquer tendência, é preciso muito cuidado ao trazê-la para a realidade corporativa, tendo a certeza de que faz sentido perante suas metas e que não será apenas mais um movimento de “modismo”.
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